QUERO-QUERO
Luiz Antonio Sega 10/07
O que tu queres quero-quero
Que insistes no teu pedido
Vives fazendo alarido
Nesta rima de lero lero
Cantas num cantar severo
Versos que eu nunca fiz
Pois é o teu quero-quero que diz
Que estão rondando nossas casas
E que já é hora de mostrar as asas
Pra que se salve este país
O que tu dizes quero-quero
Quando te rondam o ninho
É que saiam do teu caminho
Seja no canto ou no ferro
O meu, o meu é um cantar sincero
Mas que também é sentinela
Pois que se abro um clarim na goela
É pra espantar os caranchos
Que rapinam por dentro do rancho
Da pátria verde amarela
O que tu choras quero-quero
Eu já chorei nessa vida
Mas não fico lambendo feridas
E nem de longe eu desespero
Assim como tu, eu me esmero
Pra ninhada sobreviver
Sabendo que é bem melhor morrer
Com as penas arrancadas
Do que fugir em revoada
Da terra que nos viu nascer
Sei que brigas quero-quero
Contra instintos emplumados
Que buscam o alimento sagrado
Que defendes com teu berro
Eu, eu tenho que trançar ferro
Com gaviões engravatados
Nos palanques empoleirados
Inchados de roubo e propina
Típicas aves de rapina
Que fazem ninhos nos cerrados
Eu te digo quero-quero
Não temo mais o invasor
Que se fardava de outra cor
Quando veio do chão ibero
Na minha luta, eu me entrevero
É com aves tupiniquins
Eleitas para outros fins
Mas que vivem grasnando e bicando
Fazendo na terra dos candangos
Uma roubalheira sem fim
Eu te falo quero-quero
Temos que abrir o bico
Contra esses chupins que critico
E tenho certeza não erro
Acenam a foice e o martelo
Se dizem sem terra e sem ninho
Derrubam a cerca do vizinho
E vestindo plumagem “vermeia”
Fazem ninhos de lona em terra alheia
Protegido pelo padrinho
O que tu pensas quero-quero
Quando te paras tapado
É o mesmo que eu medito ensimesmado
Enquanto meu mate eu venero
O que eu vejo eu já não tolero
Um penacho sem ter estudo
Deixa que biquem por tudo
E quase não adianta “gritá”
Pois quem manda nos carcará
Se faz de cego,surdo e mudo
O que me ensinas quero-quero
Quando abres os teus punhais
Que é preciso pelear bem mais
Para não ficar no zero a zero
E, fechando meu bico eu espero
Que não se depene mais o meu povo
Que abra as asas num canto novo
Que se livre da casca quebrada
E renasça de alma emplumada
Como teu filhote, liberto do ovo.
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