PAYADA DE UM RETORNO

Luiz Antonio Sega
Pitangas / 2004

Hoje não tem poesia
Não rezo hoje a liturgia
Pois já me dói a saudade
E esse tema na verdade
Já daria um baita poema
O retorno já é um dilema
Merece mais que um improviso
E meditar seria preciso
Pra falar sobre esse tema

Sigui tu me manda falar
Quando a minha alma chora
Há uma emoção que me devora
Ouvindo o Patias cantar
Fica até difícil de rimar
E eu dizia pro rui agora
Que quando chega esta hora
Tenho vontade de chorar
Tenho vontade de gritar
Pois logo mais sem demora
O corpo se vai estrada afora
A alma insiste em ficar
Como é difícil voltar
Como é triste ir embora

Volto triste mas pressinto
É uma tristeza serena
E dentro deste teorema
Que soma tudo o que sinto
Como pra nascer um pinto
Precisa da clara e da gema
Pra se ter a alegria suprema
De voltar neste recinto
É preciso apertar o cinto
E vencer este dilema

São xucros meus sentimentos
Não cabem no brete das rimas
Olho pro chão e olho pra cima
Vejo um tropa de pensamentos
Mas são livres como os ventos
Que galopam no universo
Por mais que eu falo e converso
Não se maneiam num tento
Nunca se domam a contento
Não cabem dentro de um verso

Como cantava o Patias
Como é bom estar aqui
Como é bom voltar a Mondaí
Na pitanga de todo ano
Eu digo e não me engano
Aqui minha alma se aquece
E a sede que ela padece
Só refresca de verdade
Bebendo a pura amizade
Que nesta terra floresce

Entra ano e sai ano
Pitanga que vem e que vai
E o majestoso rio Uruguai
Nosso eterno soberano
No seu vagar de cigano
Ao cruzar por Mondaí
E me ouvindo falar daqui
Também gostaria de ficar
Ele sabe o caminho do mar
E no caminho nunca extraviou-se
Mas sabe que a pitanga mais doce
Amadurece neste lugar

Hoje, hoje a coisa é comportada
Não que ontem não fosse
Mas hoje a pitanga tá mais doce
Mais bonita e perfumada
Com nossas esposas adoradas
Nossas companheiras de fé
E eu diria até
E nisso tenho toda certeza
Que até a própria natureza
Que aqui é a mais bela
Se debruça sobre a janela
Pra admirar tanta beleza

Iara tu me conhece
E tu sabe que eu te amo
Mas, la maula que desejo cigano
De te trocar pelas barrancas
Foram madrugadas tantas
Que dormi por aqui
Dormir mesmo, não dormi
Estava com a gaita abraçado
Se o meu cantar estava engasgado
Era de tanta saudade de ti

Te digo meu caro patrão
Hoje ou amanhã vamos embora
Pois o tempo nos dita a hora
Enquanto se apaga o tição
Tu meu maior irmão
Que eu reverencio a cada ano
Pois temos o mesmo tutano
O nosso sangue é muito quente
Que importa se é diferente
Se temos o mesmo tino
Se eu tenho sangue latino
Do imigrante italiano
Tu o sangue germano
Correndo na sua artéria
Nos e a gente da Ibéria
O português e o castelhano
Já fazem mais de cem anos
Que nos fincamos neste chão.
Que podemos fazer então
Se nosso alimento é pitanga
E se de tanto amar esta sanga
Temos escamas no coração

Improvisando

Me desculpem a emoção
Falar assim é complicado
Os olhos ficam turvados
E até tenho a sensação
Que tá me faltando o chão
E eu fico procurando um norte
Larguei o improviso na sorte
E já esta me faltando a rima
E trago ainda por cima
Um suador quase de morte
O carreteiro do Túlio tava forte
No sal e na pimentinha
Eu comi quatro ou cinco tigelinha
Amanheci com dor de barriga
E com essa dor que me castiga
Eu penso mesmo e na casinha

Eu até gostei da minha prece
E eu nem tava preparado
Se alguém deixou isso gravado
Veja se não se esquece
Depois me manda um vhs
Ou ate mesmo um dvd
É que eu gostaria de me vê
E me lembrar do que eu disse
E antes que a gente partisse
Façamos uma prece também
Para que todos voltem bem
Na convivência dos seus
Levemos a benção de deus
Meu abraço e até o ano que vem.