LITURGIA DAS PITANGAS
Luiz Antonio Sega
Pitangas 2002
Com licença meus senhores
Saudações , irmão Uruguai
Nesta emoção que me cai
E se entona na garganta
A minha voz se agiganta
E arregaço minhas mangas
Para cantar as pitangas
Assim deste meu jeito
Com o que nasce do peito
E que no verso se encanga
É novembro, primavera
Entre meio da estação
Calça curta pé no chão
A noite chapéu e pala
Pois a tertúlia é de gala
Verso canto e violão
E até o primeiro clarão
Quando a poeira desmaia
Nem que o mundo inteiro caia
Não solto a gaita da mão
Isto é pitanga
Estes são os pitangueiros
Irmãos de trago parceiros
Sacerdotes de canto e tradição
E aqui num templo pagão
A oração que mais pesa
É à pitanga que embeleza
E ao rio a devoção
Aqui o ateu e o cristão
Comungam da mesma reza
E até os quatro elementos
Aqui chegam, para orar
A terra é nosso altar
O rio corre mais lento
Aqui, o fogo e o vento
Se benzem nos ouvindo
Num ritual dos mais lindo
Penso que nunca se viu
De cá ou de lá deste rio
Nem descendo nem subindo
Meus amigos pitangueiros
Ah , como vos quero bem
Rui, Donato, Carraro, Sebben,
Amizades que me orgulho
Bidu, Berti, Valdir, Tulio,
E me perdoem os demais
Não cito, mas são iguais
No quinhão de meu afeto
Pois dentro e fora deste teto
Comungamos ideais
Gracias patrão Sigui
Por nos doar teu coração
Este pedaço de chão
Teu santuário costeiro
Marcos, nosso posteiro
A pitanga é teu legado
Patias, teu canto afinado
Silencia o laranjeira
Amoitado na pitangueira
Te ouvindo, faz um mestrado
Mi hermano Uruguay
Seña de fronteras calientes
Que traes en tus corrientes
Mis sueños y tus ansias
Vamos tragando distâncias
En este vagar eterno
En un beso dulce y fraterno
Dejado aquí en la pitanga
Me hace remanso vertiente y sanga
Donde brota mi canto tierno
Yo soy un pitanguero
Hermano de el Uruguay
Y si las froteras las hay
Soy yo que las hago
Trago distancias en el pago
Despacito e en soledad
Yo tengo la hospitalidad
Con que recibes tus fluentes
Pero, si mi corazón latente
De bondad esta rechoncho
No hay quien pisa en mi poncho
Y ni mi ponga manea
Mi mano que así pasea
Y el teclado afaga
También empuña una adaga
Se hay peligro o pelea
Meu canto embora pareça
Não é ateu nem pagão
É um canto de gratidão
Ao pitangueiro deus pai
Que um dia fez o Uruguai
A pitanga e este chão
E precisando de uma mão
Chamou o Sigui pra um lado
Tchê, me faça um costado
Melhore esta criação
Me erga aqui um galpão
E mande vir teus amigos
Para que junto contigo
Comunguem do meu legado
E este será um chão sagrado
Atente pra o que te digo
E assim foi feito
Cumpriu-se a divina agenda
E foi melhor que a encomenda
O que o Sigui fez aqui
Foi ajeitando aqui e ali
Com a benção do criador
Dias de solidão e suor
E capricho de João barreiro
Com engenho de costeiro
E paciência germânica
Fez rancho, galpão, panorâmica
Um exagero da ciência
Onde repassa a vivência
O pitangueiro entronado
Pensativo, despilchado
E rendido pela urgência
Vai cavocando a consciência
E assim, mesmo destogado
Parece um magistrado
Julgando a própria existência
Abençoe patrão nosso canto
E a virgem santa pitangueira
Que foi feita padroeira
Deste nosso recanto
Que o verde de seu manto
Nos cubra de esperança
E seus braços que balançam,
Ao sopro do minuano
Nos recebam ano a ano
Na alegria e na ternura
E que sua fruta madura
Alimente nossa amizade
E quando la na cidade
Tentam nos botar cangas
Não vamos chorar pitangas
Nem perder a altivez
Contemos horas, dias,mês,
Julho, Agosto, Setembro,
Vem Outubro, então Novembro
Ca estaremos outra vez.
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