BOCHINCHO NA BOITE

Luiz Antonio Sega 06/06

Voltava eu de uma noite
Dessas assim bem galponeira
Madrugava a quinta feira
Vi uma placa escrito "BOITE”
Eu que vinha tapado de afoite
Pouca vontade de ir embora
Bombiei ainda lá de fora
Vi que que a coisa tava animada
Resolvi só dar uma olhada
Passava pouco das quatro horas

Já me cobraram na frente
Uma tal de consumação
Paguei até com satisfação
Tava bem a conta corrente
E olfateando o ambiente
Me recostei no balcão
E assim com ares de patrão
Que tava de bem com a vida
Mandei que viesse uma bebida
Pra dar um trago na solidão

Eantes mesmo do trago
Se chegaram cinco ou seis
Cumprimentei uma por vez
Sempre fui bem educado
E pra não ficar mal falado
Sou contra a poligamia
Dei uma geral nas guria 
Aliás, um lote de primeira linha
E apertei a mais novinha
Jurou que era o primeiro dia

E num já pediu uma dose
De um licorzinho meio bege
Me dizendo é que a casa exege
Beber até que nem bebo
E me puxando por um dedo
Me levou pra um reservado
Enquanto me fazia uns agrado
Busquei entender enfim
Por que um chinaredo assim
Costuma ser mal falado

Trabalham suando pra seu sucesso
Sem carteira sem regalia
Sem plano de saúde fundo de garantia
E quase nunca fazem recesso
E ao contrário lá do congresso
Não roubam não fazem mazelas
E quando chamam de filhos delas
Aquela corja de políticos
Eu não aceito, sou muito crítico
Pois a ofensa é maior pra elas

Como é lindo assim a la farta
Um lote só de potrancas
Me lembrei aí de uma barranca
Onde tinha quase de tudo
Mas naquele bando de cuido
Sem china e nenhum passivo
Já tinha quem olhasse lascivo
Pra uma cusquinha branca e vadia
Como querendo botar em dia
Seus instintos mais primitivos

Eu tinha um amigo mamado
Cujo nome ora eu declino
Sempre achei que lhe faltasse um pino
E que não se fez de rogado
Mandou um chasque pra o outro lado
Acho que era vicente dutra
E naquela madrugada bruta
Até a cerração pegou a levanta
Quando apitou na margem de cá
Uma caicada cheia de....flores

Estava eu ali meditando
Na minha estampa ventena
Quando aquela deusa morena
Me chamou pra uma contra dança
Sai mais enliado que trança
Sentindo a madrugada pequena
Fui esquecendo as minhas penas
E no calor daquele corpinho
Eu ia coxichando carinhos
Por de baixo de suas melenas

Sai bailando sem rodeio
Num romance assim de Romeu
Como se fosse só meu
Aquele corpinho alheio
Foi ai que deu-se o enleio
E lhes digo não é lorota
Um magrão desmunhecando a canhota
Que usava brinco e boné
Esqueceu de tirar o pé
Debaixo da minha bota

Qual é que é a tua gaúcho
Gritou, pulando que nem saci
Eu disse, a minha é essa aqui
Acaso tu não ta vendo
Mas o tipo já veio fazendo
Uns trejeito de Kung Fu
E assim num gritedo de peru
Me meteu uma pata no peito
E Fui caindo meio sem jeito 
No golpe do fumanchu

Pensei, me erguendo do chão
Na brevidade da existência
E foi aí que tomei ciência
Da gravidade da situação
Vinha vindo um pelotão
Com as calças à meia canela
Não sou do tipo que amarela
Mas não tinha mango nem faca
O jeito foi ir largando a guiaca
Bem pelo lado da fivela

E já na primeira passagem
Ficou ecoando o estouro
Saltou uma lonca de couro
Trazendo umas três tatuagem
Mas ficou bem mais feia a imagem
De uma gorfinho tipo baleia
A fivela fisgou na volta e meia
No mais enfeitado dos cinco oreiudo
E me trouxe junto com um brinco
Mais da metade duma "OREIA"

O chinedo correu abrindo a guela
Quando pipocou um vinte dois
Foi que nem estouro de bois
Que vai soltando a cancela
O lugar não tinha janela
E a porta virou um brete
O revorvinho tirei num bofete
E o dono beijou o assoalho
E eu fiquei quem nem rei de baralho
Descendo o pau nos valete

Um topetudo magricela
Me trouxe o braço certeiro
Vinha remoendo que nem terneiro
numa bocada de quirela
Quase riscou minha goela
Com um toco de canivete
Juntei o cujo pelo topete
Meti-lhe a boca nos flanco
Deicou cinco dentes num banco
E mais meio quilo de chiclete 

O ultimo parecia um bordoga
Era um tipo forte em quantia
Desses que fazia academia
E pelo jeito pitava droga
Eu sou letrado tenho toga
E nunca me engasgo com o caroço
Desci uma cadeira bem no osso
Que depois olhando de perfil
Parecia que tinha uns canzil
Dos dois lados do pescoço

Gracias por tudo isso
Me desse a dona da casa
Era preciso mesmo cortar as asas
Desses metedor de enguiço
E por conta do seu serviço
Tome mais uma de cortesia
Apareça aqui, volte outro dia
Não se preocupe com o estrago
Agradeci, tomei o meu trago
E depois me mandei a la cria

( e a china ? )

Essa resposta eu dedico
Ao meu mestre pajador
Que hoje encanta o senhor
Pajando lá no infinito
Enquanto mateia solito
Se aquentando perto da lua
Vai tentando uma estrela xirua
Que refletida nas aguada
Vai "alumiando" a sua pajada
Enquanto se banha nua

A china, a china tava la fora
Se aquentando no meu pala
Naquela sua beleza baguala
Me esperando pra ir embora
Como foi linda aquela aurora
Já vendo o sol no horizonte
Fui matar a sede direto na fonte
Fo aconchego de seus abrigos
E o restante meus amigos
Não carece que eu lhes conte.